Pecadores
- Diego Nicolau
- 14 de abr.
- 3 min de leitura
Em Pecadores, Michael B. Jordan assume um desafio duplo ao interpretar os irmãos gêmeos Smoke e Stack, que retornam à sua cidade natal tentando apagar um passado conturbado. Mas esse retorno não é nada tranquilo. O que parecia ser um recomeço vira pesadelo quando uma força maligna começa a assombrar a cidade e seus habitantes.
Dirigido por Ryan Coogler — parceiro de longa data de Jordan em Creed e Pantera Negra — o filme mergulha de cabeça num thriller sobrenatural ambientado no sul dos Estados Unidos dos anos 1930.
É impossível falar de Pecadores sem destacar a genialidade de Ryan Coogler. O cara é um dos diretores mais subestimados da sua geração. Desde Fruitvale Station (um filmaço que eu gosto demais), ele vem mostrando domínio completo do cinema: seja no drama, na ação ou no fantástico. Aqui, ele está no controle total. Cada plano é pensado, cada movimento de câmera tem propósito. Os planos abertos que revelam a vastidão da cidade, a festa de Blues capturada com alma, e os enquadramentos fechados que mergulham na intimidade dos personagens — tudo é milimetricamente calculado. Coogler sabe onde colocar a câmera pra gente não perder nada, nem na emoção nem na ação.
E falando em ação: as cenas são impecavelmente coreografadas. Tem uma em plano-sequência que é simplesmente absurda de bem feita. E tem uma cena específica onde a tela do cinema cresce, muda para IMAX, e o impacto visual é tão forte que arrepia. É ali que você sente: isso aqui é CINEMA.
Narrativamente, o filme começa com um ritmo mais lento, e isso é proposital. A história se passa no Mississippi dos anos 1930, uma época marcada pelo racismo institucionalizado e pela violência extrema. A Ku Klux Klan estava em pleno auge. O filme nos joga nesse contexto de forma crua, mostrando negros que, mesmo “livres”, ainda viviam à margem, colhendo algodão e sendo segregados em cada canto. Esse início mais lento serve pra nos situar, pra fazer a gente sentir na pele aquele ambiente. E quando o filme engrena na segunda metade… segura. A coisa vira. A ação ganha corpo.
Michael B. Jordan entrega tudo em dose dupla. Stack e Smoke têm personalidades distintas, e ele domina as duas. Mais do que um “rostinho bonito”, ele mostra aqui que sabe atuar — e muito — quando está envolvido no projeto. O elenco de apoio também não fica atrás. Destaque para o ator que interpreta Simons, que entrega muito mesmo com pouco tempo de tela. Os diálogos são afiados, a construção dos personagens é densa, e o roteiro é pura “canetada”.
Mas talvez o que mais eleva Pecadores ao nível de obra-prima seja sua trilha sonora. O filme é musical, não no formato clássico, mas na alma. Ele carrega o peso e a potência do Blues — essa música que nasceu nas plantações, que foi chamada de “amaldiçoada” pelos brancos, por carregar as dores e a força do povo negro. O filme aborda essa relação histórica: a ideia do “pacto com o diabo” como uma metáfora racista, o medo branco diante do talento negro. E tem uma cena, no celeiro, em que o Blues começa a tocar… E aí o filme transcende. Ele mostra que tudo nasceu dali: o Rock, o R&B, o Hip Hop. O presente, o passado e o futuro da música negra estão naquele momento. Aquela cena é cinema. 10/10.
Pecadores estreia em 17 de abril e, sinceramente, ver isso no cinema é essencial. Ryan Coogler e Michael B. Jordan provaram mais uma vez que, juntos, entregam mais do que filme: entregam história.





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