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Crítica - Nope ( não! Não Olhe)

  • Diego Nicolau
  • 29 de ago. de 2022
  • 5 min de leitura

O cineasta Jordan Peele, vencedor do Oscar, renovou e redefiniu o terror moderno com Corra!, em 2017, e Nós, em 2019. Agora, ele aparece com o seu novo filme Não! Não Olhe!, um sombrio e fantástico pesadelo pop de ficção científica,

O filme reúne Jordan Peele e o ator vencedor do Oscar, Daniel Kaluuya, com Keke Palmer e Steven Yeun .

Não! Não Olhe! se passa nos arredores de Los Angeles,no sul da Califórnia. É onde situa-se o rancho que os irmãos Haywood herdaram de seu pai, o criador e domador de cavalos lendário na indústria cinematográfica.

Ao lado do rancho tem o jupiter’s Claim , um parque temático baseado na história e estética da Corrida do Ouro da Califórnia. O parque pertence a Ricky “Jupe”.

Jupe é um ex-astro mirim marcado por um trágico escândalo que ocupou as manchetes dos tabloides, do qual ele passou toda a vida tentando se libertar.


OJ e Emerald começam a perceber fenômenos inexplicáveis vindo do céu que os leva a criar meios de filmar e registrar o mistério.

Suas artimanhas para possibilitar a documentação, através de estratégias cada vez mais elaboradas e perigosas, colocam em risco a única coisa que eles realmente têm: o negócio suado de seu falecido pai.

Tudo se intensifica ainda mais à medida que os irmãos contratam a ajuda especializada do funcionário da loja de eletronicos, e de um cineasta, à beira da aposentadoria.

O resultado é um espetáculo de horror intenso e original cuja essência são emoções complexas e íntimas.


Não! Não Olhe! tem roteiro e direção de Jordan Peele, também produtor do filme em parceria com Ian Cooper (Nós, A Lenda de Candyman) e Win Rosenfeld (série Hunters, Infiltrado na Klan) assina a produção executiva.


Tecnicamente, Nope é, de longe, a obra mais espetacular da filmografia do cineasta, no sentido de se aproximar bastante dos visuais e produção geral de um blockbuster.


Peele acrescenta imenso humor a este filme comparado com os anteriores e, talvez até de forma surpreendente, funciona na perfeição. Não só os momentos mais levianos são extremamente eficazes, provocando várias gargalhadas

Peele consegue subverter as expetativas de forma absolutamente genial.

O diretor não nos oferece uma premissa facilmente resumida numa simples frase ou tema, estamos adentrando os meandros da ficção científica e das invasões desta vez. Contudo, Peele não abandona o terror e o suspense que lhe consagraram. Embora o surgimento de tal ameaça alienígena seja a força motriz da trama, trazendo toda uma atmosfera de estranheza e uma tensão crescente, o seu foco está mais em como ela afeta as vidas dos personagens, bem como em suas reações a ela. E é justamente aí que encontramos a ácida crítica do diretor à cultura de espetacularização de situações desesperadoras, tanto por parte da mídia quanto dos espectadores. Isso se reflete, de certa forma, em todos os personagens da trama, como Emerald, que vê o objeto alienígena como uma forma de atingir fama e fortuna, ou mesmo em Jupe que teve uma tragédia de sua infância transformada em espetáculo midiático.

Portanto, o longa não é apenas uma repetição de uma fórmula Jordan Peele”. Nem poderia ser, uma vez que o diretor dessa vez possui um público e uma relevância maiores na indústria, bem como um orçamento significativamente maior do que em seus filmes anteriores. Isso permitiu a Peele investir em uma experiência visual (e auditiva) bastante impressionante (e que faz valer o ingresso no cinema), sendo impecável do ponto de vista técnico. Há também uma certa fuga dos espaços fechados, tão típicos do terror, trazendo o foco para as vastidões insólitas do rancho dos Haywood (algo parecido, mas ao mesmo tempo diferente, do que Ari Aster já havia feito em Midsommar). Graças a isso, a fotografia é um dos pontos fortes da obra.


Não! Não Olhe! faz juz à fama conquistada pelo diretor. Talvez a sua trama pareça confusa em algumas partes, mas tudo vai se encaixando nos momentos certos, exatamente como nas suas produções anteriores. Quando menos espera, você está capturado pela atmosfera de tensão e estranheza que o longa passa. Tudo o que se espera de um trabalho de Jordan Peele está lá, como um roteiro (também assinado pelo diretor) instigante e que não se apressa em revelar seus sentidos; um desenvolvimento relevante das reações dos personagens a algo insólito e inexplicável; uma certa veia cômica que, mais do que divertir ou aliviar a tensão, traz questionamentos; e diversos pontos para reflexão posterior do espectador. Mesmo suas conhecidas críticas raciais estão presentes (como o apagamento da história do ancestral de OJ e Emerald, que teria sido tão importante para o cinema), embora de forma menos evidente que nos filmes anteriores. Portanto, Não! Não Olhe! entra de forma digna na filmografia do diretor e é tão digno de elogios quanto seus antecessores.

Nós pagamos ingresso de cinema para sermos surpreendidos.

E inovar parece ser algo cada vez mais raro no cinema fast-food hollywoodiano. Sair do óbvio e brincar com as possibilidades é um dom para poucos realizadores e uma dádiva dos visionários. Mas, felizmente nascemos na mesma época em que Jordan Peele faz filmes.

Afinal, quem mais pensaria em pegar uma história de ovnis e subvertê-la a ponto de transformá-la em algo absolutamente original, aterrador e carregado de simbolismos ?

Carregado de metáforas sobre a cobiça do entretenimento e o espírito carniceiro em passar por cima de qualquer um para chegar onde deseja, Peele retorna para contar a história de Eadweard Muybridge em 1878, mas não sobre o fotógrafo em si, mas sim sobre o homem preto que montava o cavalo que viria a se tornar um dos primórdios da fotografia e do cinema.


Enquanto Muybridge é mundialmente conhecido, o cavaleiro permanece anônimo até hoje. Através da fantasia, o cineasta corrige esse apagamento profundo da negritude na história de Hollywood ao colocar OJ e Em como seus descendentes diretos.


Em Não! Não Olhe!, diferente dos filmes de terror tradicionais, espaços abertos e em plena luz do dia são ainda mais ameaçadores por conta do predador que se esconde no céu e que guarda um visual tão sublime e chocante que chega a ser difícil descrever a experiência.

No auge de sua criatividade e ousadia, Jordan Peele mistura cinema de arte com blockbuster e nos presenteia com mais um filme primoroso e, quem sabe, até maior (eu disse maior e não melhor) do que seus anteriores. Não! Não Olhe! subverte clichês, brinca com as mentiras de Hollywood e diverte com personagens cômicos, mas também arranca arrepios da espinha como poucos filmes conseguem fazer. Um suspense visceral e ambicioso que eleva os filmes de invasão alienígena a outro nível de excelência.

Mas não espere por muitas respostas, apenas se deixe ser capturado pela experiência aterradora que é Não! Não Olhe!.


Nota: 9.5 / 10

 
 
 

1 Comment


mel.kakau37
mel.kakau37
Aug 29, 2022

Ai que delícia ler isso! Compartilho tanto da mesma ideia sobre o filme, que fico animada só de ler a crítica de um profissional da área. Eu ainda acrescentaria, CHOREI HORRORES como uma bela choraozinho da estrela q sou

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