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Todo tempo que temos

  • Diego Nicolau
  • 10 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

FESTIVAL DO RIO - POR FERNANDO GOMES

(@_fgdalmeida)


Sentado na estreia do filme no Cine Odeon, eu não pude deixar de sentir que eu era a única pessoa fora de sintonia com o filme. Enquanto o público e amigos críticos/criadores riam e choravam em medidas iguais, eu me vi surpreendentemente apático ao que acontecia.

Todo Tempo Que Temos é um filme fora de harmonia consigo mesmo, que prova que uma apresentação competente e atores excelentes, não impedem um filme de ser tão não memorável. A ambição do filme é clara: extrair lágrimas de uma audiência inevitavelmente apaixonada pela beleza de seus protagonistas.

Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield)

são um casal formado pelo acaso da vida e separados pela inevitabilidade da mesma. Almut é uma cozinheira da alta gastronomia extremamente competitiva e independente, com um talento gigantesco rivalizado apenas pelo tamanho da sua ambição. E Tobias, bem, Tobias é um personagem que existe pra ser bonito chorando em tela.


Aqui acompanhamos um filme que conta de forma não linear a história desse casal, pulando no tempo entre cortes para retratar diferentes momentos do relacionamento. Esses saltos, aparentam ter a unicamente a intenção de gerar uma montanha russa de emoções entre os momentos de júbilo e êxtase, com pesar e desesperança. Mas, essa ferramenta narrativa só parece retirar você da imersão de forma abrupta no instante que alguma coisa real começa a se revelar nesse texto. E pior que isso, a direção parece se cansar de sua própria ideia no terceiro ato, já que tudo se torna linear no final.

We Live In Time parece um filme retirado do forno na metade. Esboça um realismo, mas recai no melodramático. Levanta temas complexos, mas os abandona no meio da caminho. Cria personagens, mas esquece de desenvolver os mesmos. E isso é uma das dificuldade de roteiros não lineares, mas principalmente aqui já que os saltos transmitem momentos e emoções, e não necessariamente características que façam com que nos importemos com esses momentos e com essas pessoas.


A necessidade de fazer você sentir algo é colossal nesse filme e ele efetivamente consegue, no entanto eu sai de lá com a sensação de que estive sendo induzido a sentir essas sensações e não verdadeiramente sentindo-as. O tema, as atuações, a fotografia e a trilha sonora todas trabalham incansavelmente pra isso, e parecem tentar mascarar o fato de que não tem muito aqui além de uma gigantesca montagem dos melhores e piores momentos de um relacionamento.

O filme se encontra em seus piores momentos quando foge da naturalidade que estabelece no início pra recair ao melodrama e clichês do gênero

— até porque o tema de romance impedido por doença terminal é batido e ele não tem nada de novo a acrescentar. Mas, ele brilha nas vulnerabilidades de seus personagens, nas atuações de seus protagonistas, mas principalmente na sua capacidade de entender o espectro de emoções humanas que constroem uma vida a dois — ainda que ele seja incapaz de expressá-las de forma convincente.


Independente de suas falhas, distanciamento de emoções reais e desinteresse de sua própria premissa Todo Tempo Que Temos é um filme que cumpre o que se propõe a fazer; te fazer chorar. A química, comprometimento e atuação de Andrew Garfield e Florence Pugh é o suficiente pra fazer você acreditar que esse filme é algo especial, mesmo que não seja, justamente por ser o melhor que o filme tem a oferecer.

A verdade é que existe mérito o suficiente pra que seja um romance competente. E por mais que eu não tenha me envolvido como todos, eu ainda consegui enxergar humor, amor e naturalidade em diversos momentos do filme. Um texto que surpreende esporadicamente e encontra equilíbrio entre humor e tristeza com elegância em diversos momentos. Além de ter uma fotografia gentil e detalhista do que constitui intimidade.

A vida é feita de todos os momentos que vivemos no tempo, mas ela também é composta de um caleidoscópio de memórias de como lembramos dessa vida. Recordar desses momentos não implica em sentir novamente as emoções que sentimos, lembrar que eu me senti feliz não é a mesma coisa que me sentir feliz. E é assim que me sinto com esse filme, como se eu soubesse exatamente as emoções que deveria sentir em cada momento, mas sem verdadeiramente senti-las.

 
 
 

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