O quarto ao lado
- Diego Nicolau
- 17 de out. de 2024
- 2 min de leitura
Com O Quarto ao Lado, Pedro Almodóvar volta a explorar as nuances das relações humanas.
Protagonizado por Julianne Moore e Tilda Swinton, o filme narra a história de duas jornalistas, Ingrid e Martha, que se reaproximam após anos de distanciamento, quando a vida de Martha, uma correspondente de guerra, é interrompida pela descoberta de uma doença terminal.
A trama é permeada por uma forte sensação de urgência, tanto pela doença de Martha quanto pelo inevitável confronto com a morte. Almodóvar constrói um drama íntimo e profundo, que se destaca por sua exploração dos medos e arrependimentos das personagens. Julianne Moore brilha em uma de suas falas mais marcantes, onde confessa seu medo da morte, enquanto Tilda Swinton entrega uma performance contida, mas poderosa, como a amiga que se distanciou devido às exigências de sua carreira.
A narrativa do filme é habilmente conduzida, e Almodóvar, como de costume, sabe exatamente como conectar o espectador emocionalmente à história. O filme transita entre o presente e flashbacks da juventude das personagens, e, embora o ritmo seja mais lento, há um magnetismo em acompanhar os próximos passos de Ingrid e Martha enquanto elas lidam com dilemas pessoais e profissionais, além do reencontro com seus passados.
Visualmente, O Quarto ao Lado é uma obra-prima. Almodóvar utiliza sua paleta de cores com maestria, fazendo uso expressivo do vermelho e do verde para transmitir as emoções das personagens. Cada cena é cuidadosamente planejada, desde os enquadramentos até a iluminação, que reflete o tom melancólico da narrativa. Em momentos-chave o diretor consegue criar tensão e intimidade com o público, colocando-nos dentro do turbilhão emocional das personagens.
Ainda assim, nem tudo no filme funciona perfeitamente. Alguns diálogos soam forçados, especialmente em momentos onde Almodóvar parece buscar profundidade filosófica, mas acaba afastando a naturalidade das falas. Além disso, o arco envolvendo a filha de Martha, uma subtrama sobre o ressentimento causado pela ausência da mãe, perde força nos momentos finais.
Há uma estranheza deliberada no filme, especialmente em cenas como os flashbacks e uma casa pegando fogo no meio do nada, que flertam com o surrealismo. Essa escolha criativa, embora possa causar confusão para alguns, serve para destacar a liberdade narrativa de Almodóvar e seu interesse em contar histórias que ultrapassam o realismo convencional.
A química entre Julianne Moore e Tilda Swinton é o ponto alto da obra. Suas atuações carregam o filme até o final, com uma troca intensa e verdadeira que torna seus dilemas e medos palpáveis para o espectador. Mesmo com o ritmo lento e as discussões mais introspectivas, é difícil não se envolver com suas jornadas pessoais.
No fim das contas, O Quarto ao Lado é um filme que fala sobre a mortalidade, os traumas do passado e os laços que construímos ao longo da vida. Almodóvar não entrega uma obra perfeita, mas faz um retrato sensível e envolvente de personagens complexas. Apesar de cair um pouco de ritmo no final, o filme consegue tocar em um tema necessário com a delicadeza que merece. Para quem aprecia dramas mais reflexivos, é um filme que vale a pena ser assistido.
Nota: 8.5





Comentários