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Língua Estrangeira

  • Diego Nicolau
  • 10 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

FESTIVAL DO RIO - POR FERNANDO GOMES

(@_fgdalmeida)


A linguagem é uma das partes mais importantes da comunicação, ainda que não seja a única. Pode parecer surpreendente que poliglotas, não só, tem entonações de voz diferentes em cada língua falada, como também apresentam diferentes personalidades distintas (dentro de um limite obviamente). E isso é algo que o filme vai tocar de forma tangencial, mas crucial.

Utilizar barreiras de linguagem como paralelos de isolamento social não é algo propriamente novo.

Tão pouco é utilizar emoções humanas como o amor para superar tais barreiras. Afinal, filmes como "Encontros e Desencontros" e "Vidas Passadas" já seguiram por esse caminho, mas

"Língua Estrangeira" se distingue por adicionar elementos de coming of age com personas sociais.

A história acompanha Lena e Fanny, uma jovem Alemã e uma Francesa respectivamente, durante uma troca de intercâmbios. Ambas parecem ser muito fechadas e não receptivas, passando cada uma por dificuldades em casa e principalmente na conciliação de quem são com quem almejam ser.

Lena, é uma garota ativista com posicionamentos sociais ferrenhos que não necessariamente sabe como lutar por suas causas. Fanny, é uma menina tímida e solitária que luta constantemente contra o isolamento social que sente.


Tematicamente o filme pode parecer sobre comunicação, mas na verdade fala sobre a projeção de nossas próprias imagens de forma consciente ou inconsciente. Ilustrado através do sonhos de Lena, mas principalmente pela força motivadora do filme a mitomania de Fanny. A garota francesa mente para se encaixar, mente para ser aceita, bem-vista e julgada interessante e são essas mentiras que eventualmente vem à tona e para complicar os relacionamentos.

Os intercâmbios são vastamente distintos do lado alemão na casa de Lena uma vida adolescente saudável, já do lado francês uma adolescente solitária e repleta de bullying. E é nessa oportunidade de "recomeçar" que Fanny engata em mentiras de forma mais ativa, pela chance de se reconstruir e ser um novo alguém - como muitos fizeram ao mudar de escola, pais ou entrar na faculdade.

Língua Estrangeira tem um posicionamento político bem definido, mas não muito bem explorado, fato que talvez se dê para representar que quando adolescentes temos convicção de saber tudo, mesmo não compreendendo quase nada. Mas, ele consegue capturar bem a angústia de se sentir sozinho.


Na verdade o filme tem uma sensibilidade gigantesca ao abordar a solidão eventual amor das protagonistas. Carregado de tensão e nuances, a linguagem de barreira forçada parece quase inexistente quando tanta coisa é dita através de um toque, um abraço, um afeto, uma troca de olhares ou qualquer pequeno gesto humano.

A construção do filme parece óbvia desde o início, ainda que a jornada de ver esse relacionamento se desenvolvendo e chegando a conclusão de que o amor nasce na transparência valha cada segundo.

Porém, acredito que não é disso que o filme verdadeiramente se trata e sim sobre as formas de projeção de quem gostaríamos de ser.

Fanny conta mentiras de como sonha que sua vida seja e Lena sonha com a vida que quer possuir. De um lado uma doença, a mitomania, construindo uma realidade consciente no mundo externo e social. E do outro sonhos que expressam de forma solitária e inconsciente as vontades de como Lena gostaria de ter sua vida. Os desdobramentos disso são vastamente diferentes, pois seus impactos são tangíveis em um caso e intangíveis em outro, mas no fundo a verdade é uma só: ambas fantasiavam em ser mais. Interessante é que existe essa inversão de como a fantasia socializada pelas mentias vem de quem não tem vida social, e a fantasia interna vem daquela que tem essa vida social externa.


Não existe uma grande surpresa na narrativa, por sinal o filme entrega grande parte de sua trama logo no início, algo que removeu muito da tensão e dúvida que me intrigava durante o filme. E algumas resoluções são convenientes e corridas demais, matando muito da cuidados construção.

Comovente e intrigante, Língua Estrangeira é uma reflexão sobre aceitação e a insignificância de barreiras de comunicação perante atos de amor humanos. Não é difícil empatizar com as jornadas, muito menos com a necessidade de ser aceito e nesse sentido é um retrato efetivo da juventude.

 
 
 

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