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Canina

  • Diego Nicolau
  • 14 de out. de 2024
  • 2 min de leitura

FESTIVAL DO RIO - POR FERNANDO GOMES

(@_fgdalmeida)


Amar ser Mãe, não necessariamente é amar a maternidade. Em Canina temos uma obra pouco sútil sobre os desdobramentos dessa responsabilidade imputada. Algo que se inicia de forma extremamente incisiva e vai progressivamente perdendo força quando o metafórico vai recaindo no literal.

A Amy Adam's, cuja personagem é propositalmente chamada apenas de Mãe - pra retratar a universalidade da experiência — é uma ex-artista sufocada pelas responsabilidades e expectativas sociais do papel de uma mãe na sociedade atual. Se de um lado a obra agressivamente ataca essas expectativas e normativas, ela brilha quando aborda a dicotomia entre amar seu filho e maternidade, mas principalmente quando fala sobre o papel quase invisível que uma dona de casa é forçada a assumir. Retratado de forma comicamente trágica temos uma mulher que já não mais se entende como mulher, pessoa ou esposa, apenas como Mãe.


Entre tudo isso, o filme consegue sim fazer comentários extremamente incisivos sobre o tema.

No entanto, a literalidade do roteiro acaba caindo no expositivo, em um nível que parece duvidar da inteligência da audiência de conseguir capturar a sua mensagem. Algo que rapidamente se torna cansativo, perdendo ainda mais potência com um final que parece na contramão da construção de assertividade, liberdade e independência.

Existem momentos de extrema vulnerabilidade que chocam e expressam aquilo que é omitido sobre se tornar mãe. E é aqui que o filme tem mais a dizer, ou melhor expor, ou melhor gritar na sua cara. O comentário é efetivo e verdadeiro, carregando uma transparência não tão agradável, principalmente para a norma patriarcal que rege as dinâmicas familiares atuais. Canina, provavelmente vai ressonar de forma muito mais direta com o público feminino, mães principalmente.

Ao fim dessa jornada fica claro, de forma triste, que essa é uma mensagem que tem que ser gritada na direção dos homens modernos que acreditam que cuidar do seu próprio filho quando sua esposa sai de casa é "ficar de babá"

', situação que é rebatida

com "não é ficar bebê quando o filho é seu". A obviedade incomoda pela potência da mensagem, mas a mensagem ser potente não quer dizer que a interlocução da mesma é tão potente quanto.


Any Adams está fantástica no papel e parece deixar na personagem muitas de suas inseguranças e certeza, pela naturalidade e emoção que entrega durante o filme. A mensagem de "um papel herdado" vem de forma mitológica, social e interna em Canina, mas quando ele parece ter algo a dizer sobre isso o filme se retrai pro senso comum.

 
 
 

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