5 de setembro
- Diego Nicolau
- 11 de out. de 2024
- 3 min de leitura
FESTIVAL DO RIO - POR FERNANDO GOMES
(@_fgdalmeida)
A obra favorita na corrida do Oscar carrega consigo o mais belo e o mais horrendo da comunicação humana; por consequência, carrega um vasto espectro de emoções. É ao redor dessa dicotomia, quase maniqueísta, que os eventos dos próximos noventa minutos vão girar.
Em 1972, o, agora considerado, primeiro ataque terrorista televisionado da história acontece durante as 20ª Olimpíadas em Munique. O atentado, observado por mais de novecentas milhões de pessoas, até mais do que o homem na lua, envolvia onze atletas olímpicos israelenses sequestrados pelo grupo terrorista Setembro Negro. Esse evento ficaria conhecido como o Massacre de Munique - nada disso é spoiler, é apenas história — e foi transmitido de forma atípica.
Um grupo de jornalistas esportivos da ABC, que cobria as Olimpíadas, era o único capaz de cobrir o evento político ao vivo. Detalhe que parece ser irrelevante, mas cobrir um evento político requer compreensão do cenário, educação política e diplomacia, que a maioria dos jornalistas ali presentes não possuía.
5 de Setembro retrata os eventos como foram e se apoia em cenas e gravações reais para ampliar o realismo do filme. No entanto, nunca vai a fundo no espectro político, além de debater se o grupo Setembro Negro era uma guerrilha ou um grupo terrorista, situação que também foge da alçada da equipe e encontra uma resolução externa. O filme é verdadeiramente uma obra sobre jornalismo e sobre o combate entre a comoditização do espetáculo midiático e a consequente apatia pela inevitável próxima notícia.
O filme é tenso e nos coloca dentro das decisões e dos impactos da transmissão. A sala de transmissão parece uma panela de pressão onde a diligência jornalística luta contra a ambição, e onde a esperança luta contra a expectativa de desastre - que, afinal, significa mais atenção. Esses jornalistas estão prestes a fazer história e, para que isso aconteça, é necessário que o público se interesse pela possibilidade de tragédia. Mas, do outro lado, há também a genuína sensação de dever com a comunicação transparente ao mundo. E é quando essas linhas entre fazer o melhor pela humanidade e explorar a humanidade começam a se misturar que o filme se encontra.
Tão interessado no Massacre de Munique quanto os atletas que tomavam sol na vila olímpica durante o sequestro, 5 de Setembro não tenta esconder por um segundo que é sobre jornalismo. É sobre o preço humano dessa profissão e a inevitável dessensibilização que vem com ela. Sobre a frieza e apatia necessárias para vivenciar um evento desses, apenas para, no dia seguinte, voltar a cobrir esportes como se nada tivesse acontecido.
Para mim, é um filme competente que marca todas as caixinhas de um competidor do Oscar. Desde a aptidão técnica, o roteiro e as atuações, até o inevitável posicionamento dos EUA como os grandes bastiões de justiça e resgate da sociedade moderna. E algo que, aparentemente, agrada à cinefilia e à indústria, já que esse é um tema que arrecada prêmios e louvores há anos na indústria e provavelmente o fará de novo.
E inegável dizer que há tensão, e que o filme me engajou; só parece desinteressado no próprio tópico que quer cobrir. A sensação é a de que, assim como no filme, pouco importa o conteúdo da transmissão, desde que seja um espetáculo. E ele é, mas isso pouco importa.





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