Peter Hujar’s Day
- Fernando Gomes
- 31 de jan.
- 3 min de leitura

“Peter Hujar’s Day” é um filme extremamente apático, visualmente desinteressante e monótono. Aqui acompanhamos uma entrevista entre Peter Hujar (Ben Whishaw) e Linda Rosenkratz (Rebecca Hall), onde Peter reconta os eventos do dia anterior nos mínimos detalhes.O filme nasce desse projeto de Linda em entrevistar pessoas famosas de seu grupo social, na tentativa de compreender o ordinário dentro da vida de pessoas extraordinárias, ao passo que se conforma com a própria monotonia do seu cotidiano. A premissa do projeto é mais interessante do que o filme: elucidar o quanto pessoas famosas vivem vidas comuns. A ideia era escrever um livro retratando a vida de diversas pessoas, porém, essa ideia nunca chegou a uma conclusão. Pelo contrário, a transcrição dessa entrevista com Peter Hujar é uma das únicas — senão a única — existente no projeto.É difícil justificar a existência desse longa, já que ele pareceria muito mais interessante em outros formatos, como podcast, documentário ou até mesmo uma leitura envolvente. Mas não, Ira Sachs opta por contar a história da forma menos interessante possível, recriando a entrevista dentro do apartamento de Linda. E por 1h16, somos apresentados a um monólogo, entregue por um ótimo Ben Whishaw, sobre um dia esquecível e o cenário artístico de Nova Iorque em 1970.A escolha de não contextualizar nada no filme vai alienar quase todos os espectadores. Até porque a quantidade de nomes citados é absurda — Susan Sontag, Ginsberg, Fran Lebowitz e outras figuras proeminentes da cidade de Nova Iorque ilustram a riqueza cultural e o círculo de amizades de Peter e Linda, mas não significam nada para uma grande parte da audiência.Obviamente, a decisão consciente de apenas recriar a entrevista é corajosa, mas afasta o espectador da importância dessas pessoas e ainda mais do propósito de demonstrar um senso de normalidade em suas vidas. Sem nunca nos mostrar quem é Peter Hujar, seu trabalho ou por que deveríamos nos importar, esse se torna um filme extremamente nichado, que vai funcionar apenas para uma bolha artística ultra específica. Não existe muito com o que trabalhar aqui em questão de direção ou fotografia. É um filme bem direto e simples, que faz uso do plano e contraplano em quase sua totalidade. Uma escolha que permite vermos o potencial de Whishaw em um monólogo extenso e, ao mesmo tempo, vermos uma Rebecca Hall desperdiçada em um papel que consiste apenas em consentir, concordar ou tecer algum breve comentário. Esse é o tipo de projeto artístico que vai fazer sucesso com o público-alvo pela coragem, riscos criativos e duas performances sólidas que fazem o máximo para manter você acordado nesse filme morno. Mas essa ultra especificidade de público, inacessibilidade e incursão criativa se provou falha em estimular qualquer tipo de interesse e conexão comigo. E minha suspeita é que será assim para a grande maioria das pessoas. Me senti negativamente compelido a pesquisar sobre Peter Hujar, ou qualquer das pessoas citadas, ou até mesmo sobre a Nova Iorque na qual eles viviam e isso significa uma falha pra mim.
Filmes que se apoiam apenas no diálogo entre dois personagens e em um cenário único não são novidade, mas transpor o meio da entrevista para uma forma visual parece um descaso tanto com o meio audiovisual quanto com o escrito, ao não compreender que meios diferentes têm propósitos diferentes. Nem tudo precisa ser um filme — essa é a maior lição a ser tirada aqui.





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