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André is an Idiot — Seleção Sundance Documentário EUA

  • Fernando Gomes
  • 5 de fev.
  • 3 min de leitura


“Sem polícia e sem médicos” — André Ricciardi
“Sem polícia e sem médicos” — André Ricciardi


“André Is An Idiot” é o novo documentário da produtora A24, que assume seu título do próprio protagonista, que se considera um imbecil por não ter feito uma colonoscopia com seu melhor amigo. Uma colonoscopia sugerida apenas um ano antes de seu diagnóstico de câncer em estágio quatro — um câncer que poderia ter sido de fácil tratamento e se tornou seu fim.


O documentário, concebido e idealizado por André, acompanha seus últimos meses confrontando sua própria mortalidade e imbecilidade. Porém, esse não é um documentário triste — até que seja — mas sim uma rebelião de um homem de curiosidade e humor inabaláveis contra a finitude da vida.


André era um publicitário com uma paixão insaciável pela vida e uma vontade de explorar o que o mundo tinha a oferecer. Constantemente fazendo piadas e embarcando nas jornadas mais randômicas possíveis, sua vida é atípica do início ao fim. De seu casamento forjado — que se torna lindo e real — até sua coleção de artefatos e, claro, uma carreira irreverente e abrasiva, testar os limites era uma constante universal.


Por qualquer medida, nosso protagonista era um pai atípico, amigo, filho e esposo atípico. Um assíduo usuário de drogas — “nada mais pesado que metanfetamina ou heroína” — e consumidor tenaz de álcool, seu autoflagelo e convivência com ressacas homéricas lhe prepararam para saber lidar com a quimioterapia.


Esse pode parecer o documentário de alguém desconexo da realidade, mas é apenas a história de alguém com um joie de vive inabalável. Alguém com uma paixão insaciável pela vida, que confrontou sua própria estupidez com leveza. Sua vida inteira poderia ter sido diferente caso ele tivesse aceitado fazer a colonoscopia em dupla com seu melhor amigo — que sugere na zoeira e como um dia de spa — mas a irreversibilidade de seus atos nunca acaba com sua perspectiva de vida.


Focado em atenuar a dor dos outros e fazer humor com tudo, André traz uma leveza para um assunto que nos foi ensinado a tratar com nada menos que absoluta seriedade. No entanto, ao documentar seus últimos meses, percebemos o quão mundano é morrer — talvez a coisa mais mundana que André já fez. Essa realidade vai ficando cada vez mais brutal para todos ao redor de André, que a todo momento parece que vai sucumbir ao medo universal da morte, mas que surpreendentemente se mantém inabalável do início ao fim.


As imagens começam a ficar mais sérias, André mais magro, os tratamentos menos eficientes e a família mais sobrecarregada, entregando o grande peso que nunca vemos no nosso protagonista. A morte paira como uma sombra na vida de sua mulher e suas filhas, porém nunca vemos André permitindo que elas sintam seu luto. Na verdade, a grande carga emocional do filme vem desse embate infinito entre André acreditar que, se não trouxer leveza, ele não está mais vivo, e a necessidade de que ele compreenda a seriedade de sua vida. A lição de que ele precisava ser gentil e permitir que os outros sofressem é cruel. André não via a mesma seriedade no seu fim; ele via algo extremamente ordinário e mundano. Um evento que ele encarou como tudo na vida: com curiosidade, humor e reverência.


Chegando ao fim do documentário, que serve como documentação mas também como um aviso brutal de “FAÇAM SUAS COLONOSCOPIAS” — ou não sejam idiotas — podemos apenas rezar para que, frente ao fim, sejamos mais como André: joviais, altivos, cheios de vida e com uma admiração e reverência pela experiência mais humana do universo — morrer. A conclusão direta de André é: “Sem polícia, um pouco de médico” — um recado para você se cuidar, mas caso não se cuide, uma lição de como viver a vida, ou melhor, a morte.


 
 
 

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